quarta-feira, 22 de maio de 2013

Uma das coisas que a gente aprende ao longo da vida é que não dá para experimentar todas as emoções simultaneamente. “Tudo, aqui e agora” é um mote divertido, mas nem sempre ele se aplica. Estar apaixonado, por exemplo, me parece incompatível com o arrebatamento das relações clandestinas. Se você está vivendo um grande amor, se está tentando construir uma relação duradoura, talvez não seja boa ideia sair com aquela pessoa que tira o seu fôlego no elevador – ainda que seja apenas uma aventurazinha.

Não se trata, veja bem, de uma questão moral. Limites morais existem, mas estou falando de impossibilidades emocionais de ordem prática. A luxúria, frequentemente, conflita com a ternura. De um lado estão o carinho e a paciência (além do desejo, claro) necessários para fazer andar uma relação que a gente quer que avance. Do outro, estão o erotismo e o egoísmo das relações paralelas, que existem com a finalidade quase exclusiva de nos dar prazer instantâneo. Quando você sintoniza num desses canais, fica difícil captar o que se passa no outro. E vice-versa.

Acho que há um limite para a qualidade dos sentimentos que somos capazes de oferecer simultaneamente a outros seres humanos.

Lembro de um amigo que vivia há um ano com uma moça encantadora quando se meteu numa paixão impossível com uma mulher casada. Ele não foi pego e nem a mulher foi descoberta, mas a incandescência do caso esvaziou emocionalmente o relacionamento dele. Antes que ele percebesse, a mulher por quem ele era apaixonado tinha arrumado as malas e ido embora, daquele jeito que as mulheres fazem – de forma definitiva, e sem olhar para trás. Nem precisa dizer que desejo pela outra morreu na mesma semana.

( Ivan Martins )



Nenhum comentário:

Postar um comentário