segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Amor meu, tem um tempinho pra nós dois?

 Uma conversinha rápida, juro. Não se preocupe, não é nenhuma notícia ruim, não precisa me olhar com esses olhos arregalados não. Só queria aproveitar que estamos aqui, um de frente para o outro e às voltas desse mundo imenso e assustador que nos aguarda, pra te dizer algumas coisinhas.
Prometo sempre ser eu mesmo. Acha meio louco ou abstrato isso, né? Entendo. Vou te explicar: prometo, aos pouquinhos, mostrar pra você minhas qualidades. Se possível, todas. Mas prometo também não esconder meus defeitos, que, talvez, superem minhas virtudes. Porém, saiba que prometo a cada dia ser melhor em alguma coisa. Por mim e por você. Ok, acho que mais por você que por mim. É que tanto ouço falar por aí no “amor perfeito”, e sei lá se alguém é capaz de viver nesse mundo de maravilhas, se alguém consegue, que bom, fato é que ser humano é ser passível de falhas e eu não passo de um humanozinho desses qualquer, que enxerga nas imperfeições de um amor a forma mais perfeita de defini-lo.
Prometo fugir dos clichês. Abaixar a tampa da privada ou tirar a toalha molhada de cima da cama? Sai dessa. Vou além. Prometo dividir as tarefas domésticas. Ser um ótimo cozinheiro, embora meus dotes culinários não ultrapassem o clássico arroz com feijão e bife. Prometo, na segunda de manhãzinha, me matricular no melhor curso de culinária dessa cidade e fazer uma surpresa pra você, algo parecido com um daqueles pratos franceses de nome complicado mas capaz de dar inveja a qualquer vencedor do Master Chef. Prometo cuidar do nosso jardim. Prometo varrer as folhas que caem da árvore do vizinho sobre o nosso quintal, embora eu enxergue algo de poético nisso, e você acha graça e me chama de sonhador. É, talvez eu seja. Prometo também plantar dois ou três girassóis em meio às suas violetas, acho que ficaria bonito, não?
Prometo ler pra você. Rubem Braga, Veríssimo e Caio Fernando. E alguns outros. Prometo declamar versos de Vinícius, de Drummond e de Leminski. E prometo, no meio de todos esses inalcançáveis poetas, versar a ti alguns poeminhas de minha autoria, dizer que foi escrito por Mário Quintana e olhar sua reação. Depois ouvir você dizer: “Ah, só Quintana mesmo pra escrever essas coisas…” E só aí contar a verdade, que foi escrito por mim numa dessas tardes chuvosas de domingo, enquanto pensava em você com aquele seu vestido de flores, sorrindo pra mim de forma displicente mas muito verdadeira. Divertido seria testemunhar suas bochechas ficando rosa de vergonha, aquela ajeitadinha tímida no cabelo e o elogio mais feminino impossível: “bobo”. Ou seja, entenda-se: “Casa comigo amanhã pela tardinha?”
Prometo te abraçar. Abraçar muito. Demais da conta. Abraçar até o limite. Ou além. Prometo te abraçar quando você sentir frio, mas não pela obviedade de aquecê-la, e sim pela certeza de sermos apenas um quando juntos. Eu sou você e você sou eu, entende? Prometo te abraçar na fila do pão, no táxi, no passeio pela praça, na loja de sapatos, na lotérica ou em qualquer outro lugar banal como esses, afinal, o amor é mais lúdico nas banalidades. Prometo te abraçar quando estivermos sozinhos, de testemunhas apenas um céu estrelado e uma lua cheia, de preferência numa praia deserta em Fiji, já pensou? Mas se não puder, que seja aqui pelo Rio de Janeiro mesmo, felicidade não calcula-se por quilômetros, felicidade é você e eu abraçados em qualquer lugar que decidirmos chamar de “nosso paraíso”.
Prometo risadas. Incontáveis risadas. Algumas mais contidas, outras sem medir a voz. Prometo rir do seu pijama de vaquinha. Prometo rir do seu chinelo 34 e te chamar de “minha pequena” logo em seguida. Prometo rir só por implicância mesmo, pra que você venha me dando aqueles seus soquinhos incapazes de machucar até mesmo uma borboleta, e eu revide com um beijo longo e transbordado de sentimentos. Prometo sorrir quando você me disser coisas bonitas. Prometo também um sorriso amigo num momento difícil. Prometo, acima de tudo, sorrisos eternos quando percebermos que decidimos proteger pra sempre um ao outro.

Brunno Leal
Eu acredito que amor eterno exista. Mas não acredito que a paixão esteja sempre lá em cima. Se você está casado há muito tempo a paixão diminui, você volta a se apaixonar, depois ela volta a diminuir. Faz parte dos ciclos da vida, por assim dizer. Mas eu acredito em casais que se amam para sempre. Talvez o amor mude da juventude, quando é cheio de paixão, empolgação para a maturidade, quando é mais conforto e familiaridade. Qual deles é melhor? Não há um melhor. Amor é amor, e ele oscila.

Novaes (S.N)