Estava eu aqui, pensando em todas as histórias de amor mal acabadas que já tive, acho que todas elas foram mal acabadas. Na primeira fomos separados pela distância, depois teve aquele que me traiu, o outro me sufocou até que eu não suportasse mais, tem aquele de quem ainda me dói lembrar e o outro de quem ainda não tive coragem de jogar os presentes fora e, é claro, tem AQUELE! Aquele com quem vivi inúmeras lembranças boas, mas que hoje somos meros estranhos sem saber o que dizer quando estamos perto um do outro.
Você já parou para fazer análise das suas histórias? Percebi que entre uma história ou outra eu sempre me queixava de que eu tenho um dedinho podre e de como eu podia errar tantas vezes assim, é término após término. Destilo, assim, o meu mar de lamentações para o amigo mais próximo – eu tenho os melhores amigos do mundo! Sério! -, os pobres coitados sempre escutaram tudo com toda a paciência do mundo, me aconselharam e secaram minhas lágrimas até que eu estivesse pronta para me levantar novamente, bater a poeira e seguir em frente. Me orgulho em dizer que eu sempre consegui seguir em frente, por mais difícil que fosse, e foi difícil muitas vezes. Foi difícil quando aquele cara que eu achei que amava não me amou de volta, foi difícil quando aquele que me sufocava com seus ciúmes obsessivos fez com que eu me afastasse de todos os meus amigos e amigas, foi muito doloroso quando aquele, de quem ainda não consegui me livrar dos presentes, me deixou com um leve aceno de cabeça – na ocasião eu não sabia que nunca mais nos veríamos -, e foi quase a morte quando, no último dos meus relacionamentos, ele preferiu trair a minha confiança e meus sentimentos por ele. Acho, honestamente, que ele traiu não só a mim, mas a si mesmo e todo o nosso relacionamento, mas todos nós estamos sujeitos a erros, optei por não julga-lo, afinal, isso não me ajudaria em nada!
Ao longo de cada tombo consegui identificar uma sucessão de aprendizados, os conselhos que sempre tive e as experiências adquiridas foram fundamentais, mas ainda teimo em dizer que os tombos sim, esses foram a melhor escola para que eu pudesse me tornar o que me tornei hoje. Com eles eu consegui perceber o que quero para mim e o que espero de um relacionamento, e sem eles eu nunca teria sofrido os primeiros arranhões, não teria descoberto o verdadeiro valor de algumas amizades e eu não precisaria descobrir a minha força interior. Sem eles eu, certamente, teria menos cicatrizes, mas não me arrependo de nenhuma delas, pois cada uma, a seu tempo e a seu modo, trouxe algumas cores para minha vida. Embora eu tenha seguido em frente, eu realmente precisava passar por cada um daqueles percursos, por vezes, muito tortuosos, pois hoje consigo perceber que cada uma delas me compõe, são minha história, são parte do que eu sou e de quem me tornei, e sou sim, alguém melhor graças a cada um de meus relacionamentos e tombos que encontrei pelo caminho.
Hoje, depois de tantos erros e de tantas histórias que me trouxeram tristezas desnecessárias, entendi que tenho que ser mais cautelosa e que definir minhas prioridades é, possivelmente, o primeiro passo para que eu não volte a me machucar. Ao invés de me queixar novamente sobre meu dedo podre, preciso saber o que quero para mim, o que espero de um relacionamento e o que realmente está em primeiro lugar na minha vida. Você não precisa se sentir culpada ou mal por esse, talvez, não ser o um bom momento para que você comece uma nova relação, deixa a vida seguir seu percurso, defina o que é melhor para você e em que momento isso será bom para você – temos tempo para tudo na vida – e aí, esteja certa de que cairá bem menos vezes pelo percurso.
Não tenha medo de aceitar ajuda, de ouvir conselhos e puxões de orelha e de ter que bater a poeira uma vez ou outra. Também não tenha medo dos desafios, vencê-los significa que você cresceu, mudou, aprendeu e sobreviveu. Por mais doloroso que possa ser, sempre podemos tirar boas lições deles, o importante é não desistir de encarar o que vier. As coisas nem sempre saem como planejado, mas, veja por esse ângulo, em algum momento, tudo vai ser muito melhor do que você um dia poderia imaginar.
Jaque Rodrigues
Dica:É um detalhe específico da Informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Paris, quero voltar a ver Paris
Desta vez, esta noite que passou, não foi como da primeira vez que vi Paris: esta noite tinha os olhos rasos de raiva. A guerra dói, a guerra mata, mas isto não é guerra, isto é o “silence of the lambs”, a mortandade dos inocentes, o assassínio do quotidiano indefeso. Quando se está em guerra, sabe-se que se está em guerra, mesmo quando se toma o pequeno almoço. Eu já tomei o pequeno almoço sabendo que estava em guerra. Mais próxima ou mais longínqua, mas estava em guerra. Em Paris, quem cantava e dançava no Bataclan, quem jantava no Le Petit Cambodge, não sabia que estava em guerra, pela simples razão de saber que não estava em guerra. O que quiseram matar, na mais de uma centena de mortos da noite de 13 de Novembro, em Paris, é a nossa forma de viver, a nossa forma de dançar, a nossa forma de comer e foder.
Matam Paris para nos matar a todos, para matar o coração que há dentro de nós. Matam Paris para nos matar de medo.É obrigação de cada um de nós, dos que queremos ser livres na comida e na bebida, na contemplação sem reservas do homem e da mulher nus, na celebração do amor exaltado e tórrido que é o amor do Ocidente, fazermos viver Paris em nós.
Recordo, e é a pequenina e simbólica homenagem que agora me ocorre, a primeira vez que vi Paris.
A primeira vez que vi Paris: olhos rasos de água, claro. Tinha acabado de tirar os olhos de Lisboa e começava a ver o que na vida tinha para conquistar.
O avião sobrevoou a cidade e vi, lá de cima, o Sena, apertado à esquerda e à direita, como vi a Torre Eifel a levantar-se, com estatura cartesiana, uma espécie de “cogito” urbano como não há em mais lado nenhum, a não ser em Nova Iorque onde os franceses plantaram, como “ersatz”, a Estátua da Liberdade.
O avião sobrevoou a cidade e vi, lá de cima, o Sena, apertado à esquerda e à direita, como vi a Torre Eifel a levantar-se, com estatura cartesiana, uma espécie de “cogito” urbano como não há em mais lado nenhum, a não ser em Nova Iorque onde os franceses plantaram, como “ersatz”, a Estátua da Liberdade.
Sei bem que a França não está na moda. Na moda tem estado, e julgo que ainda está, dizer que os franceses são arrogantes e os parisienses insuportáveis. Mas nesse dia, em que pela primeira vez vi Paris com olhar cândido e souci de connaissance, encontrei o meu par.
A minha França começara, quase por acaso, quando (terá sido em 1962?) o meu pai trouxe, do porto de Luanda, uns discos abandonados, 45 rpm, de Jean Ferrat, um crooner (ou um poeta-autor?) que me fez ouvir a estranha música de uma das mais belas línguas que conheço. Depois, um bom bocado depois, sozinho ou com ajudas, peguei de frente e de cernelha, os poetas, de Rimbaud a Éluard, de Baudelaire a René Char.
Antes, a França já me tinha sido passe-partout para atravessar a alegre tristeza da adolescência. Foi o meu yé-yé, com o Michel Polnareff da poupée qui fait non, foi o meu sonho do baile de sábado à noite em que Sylvie Vartan era la plus belle pour aller danser. Eu, que vivia em África, delirava com o Tour de France em que Jacques Anquetil invariavelmente esmagava Raymond Poulidor (o mais injustiçado dos ciclistas).
A primeira vez que vi Paris, deixei-me ficar. Tinha um quarto esconso, no último andar de um qualquer número da Rue du Bac, em pleno 6eme, entre a rue de Grenelle e o boulevard Saint Germain. Margem esquerda, a que me ficou no coração, mas a que hoje, aprendida a lição de Truffaut, sou infidelíssimo. Descobri, da Opéra à Madeleine, de Pigalle a Montmartre, a sensualidade marginal da direita, a que me entrego com volúpia baudelairiana.
Não sei se a França de que continuo a gostar, por tanto a ter antes amado, ainda existe. Era, essa França de que primeiro gostei, a mesma França com que Hollywood sonhou quando fez “An American in Paris” ou “The Last Time I Saw Paris”. Elegante, generosa e cosmopolita. Luminosa e vã. Tenho a vaidade de pensar que lhe devo a minha educação sentimental.
Fonte: Site: Escrever é triste
Postado por: Manuel S. Fonseca
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