Eu demorei pra entender que ter alguma sensação familiar com
o carinha que te enrola há anos não é mágico, é natural e triste. E isso não
devia ser usado como uma desculpa confortável pra eu esperar mais um ano,
deixar escapar mais 365 dias da minha vida. Incrível mesmo é se sentir em casa
com alguém que tá contigo há pouco tempo, mas tá tão contigo que parece que
esteve ali a vida toda. Alguém que faz questão de você e inspire segurança,
conforto, afinal, casa é isso, não é? Antes eu morava na rua, descoberta numa
calçada, debaixo de muita chuva e pouco sol. Hoje eu sei, mas demorei pra
entender. Pareciam intermináveis os dias em que eu acreditei poder consertar
alguém sem conserto e só acabava me quebrando um pouco mais. Passei uma
eternidade aceitando condições absurdas e implícitas, cuidando, limpando todo o
sangue do outro e tendo hemorragia interna. Me doando, me doendo e recebendo
partidas ingratas, desculpas não sinceras, falta de consideração. Sempre soube
o que eu merecia e o que não, gritei, impus meu valor por inúmeras vezes, até o
dia que eu me calei. Porque tudo que eu sempre fiz questão de explicar, repetir
e lembrar pras pessoas, coisas sobre eu ir e não voltar, sobre não me deixar ir
então, é o tipo de coisa que o outro só percebe sozinho. Da pior forma. Não
adianta fazer maquete, gráfico, teatro. De alguma maneira louca, a minha
felicidade foi mais eficaz do que qualquer cena ensaiada. Qualquer fala
improvisada. E eu já não preciso ser atriz... olha só que desfecho, sou leve e
feliz.
Marcella Fernanda
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