"Sei que, se nos magoam, nós que permitimos, mas o processo também não é tão simples como parece. Eu, por exemplo, me machuco com bobagens. Especialmente se for alguém que amo. Ora, se essa pessoa é amada por mim, vivo de peito aberto, sem proteções, talvez por isso me magoe mais fácil e mais intensamente. Palavras ditas, atitudes feitas te pegam de surpresa e aí, o que fazer? Como assim não permitir que o outro te abale? Não sou máquina programada, sou humana. O que tento é me recuperar dos golpes, mas confesso que não posso impedi-los, para isso teria que viver de armaduras, e não quero. E vou vivendo assim vulnerável, recolhida enquanto me curo das feridas que me causam, pra voltar depois desse meu jeito de sempre, de coração escancarado. Apesar das dores, prefiro ser assim. Até porque acho que nem consigo ser de outro jeito. Menina boba tentando trocar pedras por flores."

Rachel Carvalho