segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quem ama, briga.

Quem ama, briga. Bate a porta. Bota dedo na cara. Fala mais alto que o de costume, ou deixa o outro falando sozinho. Ignora mensagens. Encaminha e-mails pro spam. Vê o número no visor do celular e finge que nada está acontecendo. Rasga fotos e cartas. Deita porta-retratos e faz careta. Debocha de declarações de amor ou desculpas. Finge que não acredita no amor descrito em poemas e encenado em filmes. Desocupa armários provisoriamente. Fica de mal.

Eu já amei chutando cadeiras. Xingando e empinando o nariz para parecer tão grande quanto minha ira. Arremessei copos e errei o alvo, mas quando acertei, ri em um primeiro momento e depois chorei enquanto enfermeiros cuidavam dos curativos. Já fingi que não estava ouvindo só para provocar, quando cada palavra entrava em mim e fazia morada, sendo ela bonita ou não. Menti esquecer de datas e fiz pouco caso de flores quando a outra parte não me atendeu no telefone no dia anterior.

Tive brigas que começaram na sala, mas que terminaram na cama e acordaram no dia seguinte tão esquálidas que o "bom dia" trocado virou poesia. E foi esquecida.

Meu amor é visceral, eu sei, mas garanto: é melhor uma selvageria descabida do que a parcimônia de uma perfeição forçada. O amor é um sentimento humano, portanto, vai errar, se esfolar e quebrar coisas no meio do caminho.

Esteja pronto.

Aryane Silva


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